Além da vontade

Adicionada em 03 de novembro de 2011

Por Fernanda Silva

Aquela vontade repentina de comer algum alimento em especial, principalmente doces, pode ser muito mais do que um simples desejo. Esse sentimento incontrolável, que atinge não só as mulheres em períodos de oscilações hormonais, como na gestação ou na TPM (tensão pré-menstrual), mas também pessoas que sofrem com problemas de peso, é chamado de craving. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o craving é um desejo de repetir uma determinada experiência em função dos efeitos neuroestimulantes de certas substâncias em nosso organismo, como os efeitos de alguns alimentos.

É, portanto, uma “fissura” por por alimentos que aumentam os níveis de alguns neurotransmissores, como a serotonina e a endorfina – que proporcionam prazer imediato.”Por incrível que pareça, o local do cérebro estimulado por esse tipo de alimento (doces, chocolate, massas, etc) é o mesmo estimulado pelos dependentes químicos (em níveis mais elevados), ou seja, o mecanismo é o mesmo”, explica a nutricionista funcional, Luciana Harfenist, diretora da clínica de nutrição multidisciplinar que leva seu nome.

O craving incide com maior frequência sobre as mulheres por causa do ciclo hormonal. No caso dos obesos, existe uma alteração na regulação da fome, por causa de dietas muito restritivas e hábitos alimentares totalmente inadequados e ricos em gordura saturada, carboidratos com alto índice glicêmico, excesso de sódio e outras substâncias químicas. Portanto, seguir uma rotina saudável, aliando uma dieta balanceada à prática de atividades físicas prazerosas, como a corrida, é uma boa dica para fugir dessa compulsão alimentar.

Para a nutricionista, deficiência de vitaminas, dieta rica em alimentos com alto índice glicêmico e jejum prolongado também ajudam a descontrolar os níveis de ansiedade. “Tudo isso pode contribuir para o surgimento de sintomas relacionados ao craving. Além de influenciar a química cerebral, essas dietas provocam alterações na concentração de ácidos graxos, decorrentes da ansiedade e da perda rápida de peso, que podem contribuir para o desenvolvimento deste problema”, revela Luciana.

Compulsão, sim ou não?

Apesar de serem semelhantes, o craving e a compulsão alimentar são problemas diferentes. A compulsão alimentar envolve aspectos emocionais, comportamentais e pode ser influenciada pela rotina. “Já o craving está relacionado diretamente à diminuição de neurotransmissores que ativam o sistema de recompensa pela liberação de dopamina”, exemplifica Luciana. No entanto, o craving alimentar pode ser corrigido com alimentação balanceada e a suplementação de alguns nutrientes, depois de uma avaliação nutricional e, se necessário, psicológica.

Lembre-se!

Beber bastante água, comer de 3 em 3 horas e de 3 a 4 porções de frutas ao dia é o ideal. Dar preferência aos carboidratos complexos (arroz, aveia, feijão, massas, batata, milho, pão), aumentar a ingestão de fibras e evitar alimentos e substâncias que estimulam de forma prejudicial o sistema nervoso central, como bebidas com cafeína em excesso (café preto, chá preto, mate, guaraná natural, guaraná em pó, refrigerantes etc), chocolate ou achocolatados, açúcar refinados e doces simples, adoçante com base de aspartame, alimentos ou substâncias com glutamato monossódico (embutidos, defumados, industrializados de forma geral, molhos prontos), amendoim e bebidas alcoólicas.

“Sempre que comer chocolate, preferira o amargo em função da maior concentração de substâncias que atuam na saciedade”, indica Luciana, que reforça a importância da prática regular de atividades físicas.