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A experiência de viver um mês sem carne

Adicionada em 19 de novembro de 2019

A empresária e influenciadora digital Osanita Rodrigues conta sobre os desafios e impactos de seguir uma dieta sem carne por 30 dias. *

“Nunca fui de comer carne vermelha com muita frequência, mas o frango sempre esteve mais presente no meu dia a dia como principal opção de proteína, tanto no almoço quanto no jantar. Já o peixe raramente entrava no meu cardápio. Não porque eu não goste, mas pelo inconveniente de deixar a casa com aquele cheiro mais forte. Mas, depois de ouvir de algumas pessoas que a dieta vegetariana pode ser interessante para melhorar o desempenho físico, resolvi ficar sem carne por 30 dias para avaliar os impactos no meu rendimento, na disposição e no corpo. 

Sou bastante ativa. Atualmente, pratico natação, musculação, aulas de bike indoor e corrida. Aliás, acabei de voltar para as pistas depois de uma temporada de quatro meses e meio sem correr por conta de uma lesão que tive no pé por ter pisado em um ouriço-do-mar. Por isso, no momento, estou focando as passadas para voltar ainda melhor para as provas de corrida.

A nova alimentação sem carne

Para começar a dieta da maneira correta, marquei uma consulta com a nutricionista Carina Amorim, de São Paulo, que já me acompanha e conhece minha rotina. Ela montou um cardápio vegetariano para atender as minhas necessidades nutricionais com opções práticas e variadas para o dia a dia. Entre as recomendações, Carina orientou que eu incluísse muita salada e legumes nas principais refeições.

Reforçou a importância de caprichar nas verduras escuras, ricas em ferro, para garantir boas doses desse nutriente que está em abundância nas carnes. E ainda teve o cuidado de incluir carboidratos integrais ou de baixo índice glicêmico para que eu tivesse mais energia durante o dia (arroz integral, quinoa, batata-doce, mandioca ou mandioquinha), além de proteínas (principalmente ovos e derivados do leite) para garantir a manutenção da massa magra. Ao contrário da dieta vegana, o cardápio vegetariano permite esses alimentos.

Por isso, os queijos magros — ricota, cottage ou queijo minas frescal light — entraram como opção, além do suplemento whey protein nos lanches para completar a quantidade de proteína do dia. A dieta também incluiu grãos, como lentilha, ervilha, feijão e grão-de-bico, por serem fontes de proteína vegetal. E a suplementação da vitamina B12 foi recomendada por ser responsável pela manutenção do sistema nervoso, por participar da regeneração dos músculos e por atuar no metabolismo de energia.

Um mundo novoComecei a minha experiência em uma segunda-feira, mas precisei me preparar antes. Então fui às compras no fim de semana para ter opções que facilitariam o meu dia a dia agitado e também ajudariam a variar o cardápio. Descobri que alguns supermercados têm uma seção específica de pratos vegetarianos e veganos prontos. E vi que existem muitas variedades bacanas e diferentes para esse público, algo que eu nem imaginava! Apesar de o preço desses produtos ser mais alto, resolvi investir em alguns para experimentar. Comprei hambúrguer, lasanha, coxinha, pizza e quibe. Tudo sem carne!

Adoção da dieta vegetariana casou com retomada dos treinos de corrida

Experimentei cada um deles durante a semana. Adorei a lasanha feita com milho, ervilha, cenoura, brócolis e muçarela de búfala, além do quibe vegetariano — e pretendo levá-los para a vida! Em outros dias, contava com outra opção deliciosa de prato vegetariano que pedia por meio de um aplicativo: uma omelete com queijo, salada e legumes por um preço bastante em conta, que acabou se repetindo várias vezes! 

Em casa, optava pelo quibe vegetariano com salada e legumes no jantar. Caso contrário, preparava uma omelete ou ainda um cogumelo shimeji refogado ao molho de soja (shoyu), que também fornece proteína vegetal. Segui a dieta direitinho, mas não deixei de tomar meu cálice de vinho diário quando chegava em casa, conforme combinei com a nutri. Ele é como um ritual de relaxamento para mim. Afinal, para a dieta se sustentar, é preciso que ela também se adeque à pessoa.

O primeiro impacto

Segui minha planilha de treinos, que mescla dias com natação e musculação para ajudar no fortalecimento, e outros com aulas de corrida e de bike. E, já no terceiro dia da dieta vegetariana, tive um ótimo resultado no treino de tiros que realizei, com direito a elogios do meu treinador Ademir Paulino.

Realizei 2 km de aquecimento mais seis tiros de 200 metros com 1 minuto de intervalo. Ao final da série, descansei 1 minuto e meio. Em seguida, fiz mais dez tiros de 200 metros com subida, sem descanso (pausa ativa com trote). Não sei se foi reflexo da dieta ou da empolgação em voltar a treinar corrida com mais foco, mas fiquei muito feliz com meu resultado. Percebi que estava com mais disposição e energia para as aulas e me sentindo mais leve.

Dieta vegetariana à prova

Os dias foram passando e não senti vontade de consumir carne até as tentações aparecerem na minha frente. A primeira vez foi numa visita que fiz à minha irmã. Ela havia preparado maminha assada para o almoço. Mas consegui segurar a onda e me contentei com os ovos mexidos, grão-de-bico e salada que ela fez para mim. Nos dois fins de semana seguintes, também passei por outras duras “provas”. Dois amigos distintos comemoraram seus aniversários em restaurantes que serviam feijoada preparada com todas aquelas carnes, que eu adoro! Novamente resisti e não comi. Fiquei firme e forte nos queijos e nas azeitonas.

Nem tudo são flores

A partir da terceira semana, a sensação de leveza continuou e mantive um bom desempenho nos treinos. Em compensação, comecei a ter muito sono no período da tarde e também passei a sentir dores de cabeça. Sou aquele tipo de pessoa que precisa apenas de seis horas de sono para me recuperar, por isso estranhei esses sintomas. Resolvi ligar para a nutricionista, que me recomendou aumentar a dose da vitamina B12 e explicou que esses sinais também podem aparecer devido a uma adaptação do organismo.

Minha rotina é bastante ativa, com treinos de vários esportes

Nessa fase da dieta, passei a comer omelete quase todos os dias no almoço por conta da praticidade em pedir pelo aplicativo, fora o bom custo-benefício. À noite, quando já estava em casa, preparava alimentos diferentes do que estava acostumada a consumir anteriormente, como couve-flor e brócolis no vapor, além de grão-de-bico cozido com azeite (que adorei!) ou caldinho de feijão — grãos que eu comia raramente.

Para deixá-los mais interessantes, fiz algumas pesquisas e descobri uma linha deliciosa de temperos veganos feitos com leveduras, que também oferecem nutrientes. Um deles se chama Italian Vegan, feito com tomate, alho e coentro desidratados, que é ótimo para dar sabor aos pratos. Outro é o Vegan Cheese, uma mistura de queijo vegano em pó com outros temperos, que derrete ao ser aquecido e pode ser usado em pratos gratinados. Foi uma ótima descoberta!

 Consumi os vegetais acompanhados dos pratos prontos que comprei no supermercado. O quibe e o hambúrguer vegetarianos, por exemplo, faziam a vez da carne. E para fechar a noite, tomava uma dose de caseína, suplemento de digestão lenta que me ajuda a não acordar com aquela fome de leão. Em alguns dias, também acrescentei frutas aos meus lanches, alimentos que muitas vezes ficava dias sem comer. As minhas apostas preferidas foram abacaxi, kiwi e fruta-do-conde. Me deliciei!

Novas experiências

Por recomendação de amigos, também comprei o famoso edamame (a soja na vagem verde) para experimentar. Ele seria mais uma opção de grão com bom teor de proteína para incluir na dieta, mas não gostei. Achei o prato sem sabor e que não vale o esforço, diferente do grão-de-bico, que fica delicioso cozido na água e sal e consumido com azeite.

Ao final da terceira semana, fui com amigos a um barzinho no bairro do Itaim, em São Paulo, para relaxar um pouco ao som de rock’n’roll e me surpreendi com o cardápio vegano do lugar. Comi um prato que lembrava um wrap recheado com shimeji, pimentão e cenoura muito saboroso. Foi uma escolha certeira! E acabei aproveitando para curtir a noite com uma cervejinha. Afinal, ela é feita de grãos!

Entre erros e acertos

Na reta final, senti uma grande mudança na pele do meu rosto, que ficou menos oleosa e mais bonita, e meu cabelo ganhou um brilho incrível. Também percebi que meu intestino passou a funcionar melhor durante todo o tempo da dieta. Mas, apesar desses benefícios, ao contrário do que aconteceu nos primeiros 15 dias, o cansaço no fim da tarde e à noite ficou ainda maior, mesmo com a dose dobrada de vitamina B12. Também me senti mais dolorida depois dos treinos. 

Mesmo assim, decidi participar da prova de 5 km da Track&Field. O resultado foi um tempo bem maior do que eu costumo fazer: 25 minutos, enquanto minha média era de 23 minutos. Acho que várias outras coisas contribuíram para esse resultado, como o frio intenso que fazia no dia e o fato de eu ter dado um gás na largada e não poupar fôlego nem energia para o restante da prova. 

Dias depois, acabei me lesionando em um dos treinos de corrida, o que fez com que eu tivesse que me afastar novamente de algumas aulas. Também comecei a me sentir mais “redonda” e achava que podia ser efeito da TPM, mas na consulta com a nutricionista descobri que cometi algumas falhas que impactaram a minha composição corporal e o meu rendimento. Acho que acabei perdendo a noção entre a relação de carboidratos e proteínas que os produtos vegetarianos possuem.

E confesso que comi em maior quantidade aqueles pratos vegetarianos prontos de que mais gostei, sem me dar conta das calorias e dos nutrientes que cada um possui. Assim, acabei ingerindo mais carboidrato do que meu corpo normalmente precisa e deixei de atingir as doses de proteína necessárias. Resultado? Acabei perdendo um pouco de massa magra e aumentando o meu percentual de gordura.

Entendi, na consulta com a minha nutricionista, que um prato vegetariano ou vegano não é necessariamente light ou balanceado. Na maioria dos casos, ele simplesmente não foi preparado com nenhum tipo de carne. Parece um erro bobo, mas realmente perdi as referências do que estava acostumada a consumir. De qualquer maneira, essa experiência fez com que eu tivesse uma melhor consciência do que é bacana para o meu corpo e de alimentos interessantes para consumir com maior frequência.

Pretendo diminuir ainda mais o consumo de carne vermelha, mas não vou virar vegetariana. Apenas irei investir em mais vegetais e grãos saudáveis e, de vez em quando, comprar o quibe vegetariano delicioso pelo qual me apaixonei.”

*Depoimento a Diana Cortez