Nada contra a World Marathon Majors, mas...

Harry Thomas Jr
Adicionada em 29 de setembro de 2017

Confesso que nunca fui fisgado pelo bichinho da World Marathon Majors, competição constituída por seis maratonas que estão no rol das principais do mundo: Berlim, Boston, Chicago, Londres, Nova York e Tóquio.

Apesar de ter corrido a Maratona de Nova York duas vezes, o fiz simplesmente por ser a Rainha das Maratonas, a  mais popular e querida do mundo – e não por buscar pertencer a qualquer grupo.

Por mais de décadas tive os índíces exigidos por Boston, mas sempre tive vontade zero de corrê-la. Hoje sinto um leve arrependimento, admito, visto que o pace para atingir o índice está difícil de ser alcançado – mas nada que me leve ao desespero.

Se correr seis Majors já é uma tarefa herculana para a maioria dos brasileiros, dado o alto investimento necessário para obter as seis medalhas, o que dirá o leitor ao saber que o circuito tem planos de crescer e, a médio prazo, inserir mais duas provas ao seu leque, se expandindo para o continente africano e, novamente, para a Ásia. 

 

 

Nada contra quem tem a aspiração de participar de todas as provas, pois ela é válida mas, na minha visão, um tanto elitista, pois cria uma cisão entre os que podem pagar para correr o circuito e os que não podem. 

Costumo brincar que o maior desafio de correr a World Marathon Majors é ter dinheiro para bancar a brincadeira além, claro, treinar para a distância – mas isso se faz independente da prova escolhida.

Mas me pergunto: se tenho condições de correr provas internacionais, por que ficar preso a uma calendário que é muito legal, mas fechado? Por que não conhecer outras maratonas? Curto mesmo as provas alternativas!

Quer emoção maior do que correr a Maratona de Atenas? Repetir parte do trajeto feito por Fidípedes e, como cereja do bolo, ultrapassar a linha de chegada no Estádio Panatenaico, inaugurado em 1896 para a realização da primeira Olimpíada da Era Moderna?

Meu choro compulsivo após concluir a corrida e subir dos 12 aos 32 quilômetros ao som de octagenários e famílias inteiras que gritavam “Bravo!” comprovou que aquela havia sido a mais emocionante entre todas minhas corridas.

A lista de “belas e alternativas” pode ser enorme. A Maratona de Roma, com seus belíssimos monumentos e história viva em sua arquitetura; Paris, que nunca entrou na World Marathon Majors, mesmo tendo todas as credenciais deste circuito; a do Cairo, a de Jerusalém e a de Beirute, completando um belo cricuito da história antiga e, claro, a de Instambul, que começa na Ásia e termina na Europa. A de Big Sur, na Califórnia, é linda também!

Se for na península ibérica você pode optar por Lisboa, Porto ou Barcelona. Na Alemanha, além da de Berlim, há as de Hamburgo e Frankfurt, que são ótimas. Na Holanda, Amsterdã e Roterdã.

Obviamente que cada qual tem suas características. Quem tem objetivo de tempo pode escolher, além da de Berlim, principalmente as  provas holandesas e alemãs citadas. Para curtir os 42 km, há uma infinidade delas ao redor do mundo com organização de classe mundial.

Repito: nada contra as Majors! Mas como corredor vejo na corrida um propósito mais liberto do que protocolar. Gosto da liberdade de poder tomar um vinho na Maratona de Médoc e comer um queijo harmonizado em seus postos de hidratação.

Mas são escolhas e cada corredor deve fazer as suas liberto de dogmas.

Harry Thomas Jr

Harry Thomas Jr

Jornalista especializado em corridas de rua desde 1999, Harry competiu pela primeira vez em 1994 e desde então já completou 31 maratonas – sendo três sub 3 horas: São Paulo (2h59min30), Nova York (2h58min20) e Blumenau (2h58min10). Também concluiu seis Ultratrails: 60K Ultratrail Putaendo, 67K Ultratrail Torres del Paine, 50K Indomit Costa Esmeralda e os 50K Ultra Fiord por três vezes. Já correu em países como Argentina, Chile, Estados Unidos, Grécia e Japão.

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