Treino vômito: ame-o, mas nunca peça por ele

Anne Dias
Adicionada em 27 de abril de 2017

Eu não sei você, mas eu gosto de treino vômito. Treino vômito é aquele em que, como o próprio nome diz, uma coisa ruim volta queimando do estômago. Você acha que vai morrer, até porque, dependendo, vai mesmo. Mas não morre.

Treino vômito é lindo. Você termina pedindo mais, louco para encontrar o treinador e dizer: “Fio, tá feito. Pode mandar mais”. Eu, burra, fiz isso com o meu coach e a resposta veio na planilha: 10 km num sábado, 24 km no domingo do mesmo fim de semana. Portanto, aprenda: você pode até pensar, mas jamais diga que ama treino vômito para o treinador.

Na corrida, se for para fazer direito, dói tudo. O treino vômito é o exemplo máximo disso. Os pés latejam, as batatas parecem que vão explodir, a lombar grita como se tivesse sido pisoteada por um atleta de sumô, o coração é visto quando você abre a boca, nenhum respirador artificial do mundo dá conta de todo o ar que você suga, a base do pescoço fica rígida, suas mãos incham. A minha tez até muda de cor, vai de amarela para roxa. O maldito treino vômito só fica bom quando acaba.

Para que serve um treino vômito? Pode ser para melhorar a velocidade ou te ensinar a correr longas distâncias, tanto faz. O importante é que em ambos os casos haja vômito, um Wilson Kipsang, vencedor da Maratona de Tóquio deste ano, vai passar por você sem transpirar, já tendo percorrido 45 km naquele mesmo dia. Liga, não. Ou você acha que ele tem sangue no nome à toa? Culpa do vômito.

O oposto do treino vômito é o treino bosta. Não carece explicação, mas vamos lá: é aquele dia em que sua cabeça não deixa você ir para frente, duas bigornas estão amarradas em cada um dos seus pés e parece que você nunca vai chegar a 5 km. Fio, trago uma má notícia. O treino bosta não deixa mesmo os 5 km chegarem. Eles até vêm, mas, ó, que pesadelo!

Há coisas e coisas que te levam para um treino vômito. Pode ser: namorado novo; trololó animado no zap; alguns quilos a menos; dinheiro a mais na conta; carro novo; o chefe que faltou; parou de chover; tem feriado.

 

 

E há algumas coisas que destroem seu treino, tipo: barulho novo no carro velho; o chefe que disse que não ia trabalhar e foi; celular que caiu na privada; imposto de renda; cabelo com nó; a falta de cabelo. shake no lugar do almoço; andar de salto em calçada de pedrinha portuguesa.

Agora, nem odo dia temos treinos vômitos, nem todo dia é dia de treino bosta. às vezes o treino é só um treino mesmo, normalzinho. É como ter casado com a mulher da sua vida. Na maior parte do tempo ela é só sua mulher. Ou comprar a bolsa uau do ano. Ou o filho passar em medicina nuclear mecatrônica com bolsa de estudos na Sorbonne – não, calma, isso seria muuuito legal!!!

Voltando à questão do treino: treino bom é o treino morto, feito, sendo ele vômito, bosta ou normal. Que seja legal enquanto dure, mas que o vômito dure menos. Porque nada é tão ruim ou bom que não tenha um fim. Fim.

Anne Dias

Anne Dias

Jornalista com especialização em economia e com nove meia maratonas no currículo: duas W21, Meia Maratona das Pontes (Brasília), Disney, Corpore, São Paulo, Uberlândia, Porto Alegre e duas Golden 4 Asics. Concluiu também duas maratonas: Nova York e Buenos Aires. E não pretende parar.

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