O corredor da 3ª idade e o futuro do running brasileiro

Harry Thomas Jr
Adicionada em 19 de setembro de 2018
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Há anos venho acompanhando um dado importante fornecido pelo IBGE sobre o que acontecerá com o Brasil daqui 12 anos. E dentro do universo esportivo, veremos uma maior participação do corredor da 3ª idade no cenário do running brasileiro.

Por ter formação acadêmica na graduação e pós-graduação, e experiência profissional de 15 anos com marketing de consumo, majoritariamente com pesquisas de mercado, números e tendências costumam me atrair.

A partir de 2030, pela primeira vez na história, o Brasil terá mais idosos do que crianças. Serão 41,5 milhões (18% da população) de pessoas acima de 60 anos contra 39,2 milhões (17,6%) das que terão de 0 a 14 anos. Hoje os idosos somam 29,4 milhões (14,3% da população). Ou seja, teremos um aumento substancial no número de pessoas que requerem outros cuidados com saúde, sistema previdenciário, esporte e lazer.

Sabemos que as corridas de rua não são praticadas, em sua maioria, por jovens, mas sim por pessoas que estão na faixa entre os 30 e 50 anos de idade. Essa maioria é notória e vista a olho nu. É só dar uma olhada no público que participa das corridas pelo Brasil afora.

Outro ponto é que a corrida é viciante. Uma vez picado pelo “mosquitinho’, a grande maioria continua sendo corredor por décadas. Diferente de algumas modalidades onde a jovialidade precisa ser colocada em prática, a corrida, por ser um esporte natural, pode ser praticada por pessoas de qualquer faixa etária, desde que com aval médico e os exames em dia. Desta forma, boa parte dos que formam a maioria atual estarão entre os corredores de terceira idade na década de 30.

Mas e daí? Eu questiono: será que o mercado está preparado para isso? Os organizadores que tem que cumprir o Estatuto do Idoso onde são por lei obrigados a conceder desconto de 50% nas inscrições terão que rever seus preços e consequentemente as inscrições poderão ter um aumento significativo? 

Por outro lado, abre-se um leque onde empresas voltadas a segmentos como planos de saúde, hotéis para terceira idade e indústria farmacêutica podem se interessar pelo filão que é promissor. É o que na administração e marketing chamamos de ameaças e oportunidades.

Para a indústria esportiva abre-se uma nova frente. O corpo humano reage como com a chegada da terceira idade? Equipamentos com maior proteção deverão ser desenvolvidos? A questão da osteoporose será levada em conta ao projetarem novos tênis com amortecimento para evitar dores e lesões e minimizar os efeitos das doenças geriátricas? 

Com relação ao corredor que quer chegar lá com saúde, é necessário que comece a trabalhar desde já. Temos visto ultimamente uma infinidade de pessoas que usam cargas de treinos e competições altíssimas. O bom senso mostra que, a hora em que a lesão vier, chegará com força total. Competir menos e com mais qualidade é uma boa estratégia.

Cuidar da alimentação, privilegiando alimentos ricos em cálcio, vitamina D e ômega 3, é um dos caminhos para combater a osteoporose (doença que traz degradação estrutural e a diminuição da densidade mineral dos ossos e aumenta o risco de fraturas ósseas). Além da alimentação, deve-se fazer exercícios de fortalecimento que são super indicados para evitar a doença.

O tema, ao menos publicamente, ainda não foi colocado a mesa, mas aqui já estamos vislumbrando que o mercado como um todo (a indústria esportiva, organizadores, e claro, corredores) terá de se adaptar a essa nova realidade que está por vir.

Harry Thomas Jr

Harry Thomas Jr

Jornalista especializado em corridas de rua desde 1999, Harry competiu pela primeira vez em 1994 e desde então já completou 31 maratonas – sendo três sub 3 horas: São Paulo (2h59min30), Nova York (2h58min20) e Blumenau (2h58min10). Também concluiu seis Ultratrails: 60K Ultratrail Putaendo, 67K Ultratrail Torres del Paine, 50K Indomit Costa Esmeralda e os 50K Ultra Fiord por três vezes. Já correu em países como Argentina, Chile, Estados Unidos, Grécia e Japão.

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