Divulgação/Ultra FiordFoto: Divulgação/Ultra Fiord

Corrida tem todo ano. A vida é uma só

Harry Thomas Jr
Adicionada em 24 de abril de 2019
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Como qualquer pessoa que investiu meses de treinamento, tempo e dinheiro não se sentiria se aquela competição tão esperada fosse cancelada às vésperas ou mesmo no decorrer do evento? É frustrante, chato e desolador, mas às vezes o remédio amargo é a melhor alternativa.

É uma situação não corriqueira, mas que acontece. A última vez que soube de uma prova cancelada- aconteceu neste mês de abril – eu estava lá. Desta vez foi suspensão de todas as distâncias que seriam disputadas de quarta-feira a sábado na Ultra Fiord.

O motivo? O implacável clima de uma das regiões mais inóspitas do mundo: a região da Antártida-Magalhães no extremo sul das Américas.

E os corredores tiveram que se contentar com um plano B, que era a disputa de uma prova de 35k, o que não estava no programa daqueles se prepararam para correr dos 50k aos 160k e queriam voltar para casa com uma medalha de ultra.

Em 2016, participantes dos 160k da Ultratrail Monte Fuji, no Japão, foram comunicados minutos antes da largada que a prova de 160k na verdade acabaria com 42 km, por causa das fortes chuvas que atingiram a região.

E não é só lá fora que acontece tal fato. No Brasil a concorrida Ultra dos Perdidos foi interrompida em seu decurso porque havia a possibilidade de uma tromba d’água atingir o rio que cortava a prova trail.

O que diria um atleta carioca ou nordestino acostumado a correr sob o sol escaldante de mais de 40°C se estivesse participando da Maratona de Chicago em 2007, quando o alerta vermelho soou e a prova foi interrompida em sua metade porque a temperatura atingiu os 31°C?

Muitos iriam contestar a decisão sem querer saber que nesta mesma prova há corredores de países em que 20°C é verão escaldante. Os 31ºC neste dia levaram a óbito um atleta, deixaram quase 150 foram hospitalizados e outros 300 precisando de atendimento médico durante a maratona.

Como se percebe, a visão precisa ser holística e não baseada no “eu”. Os organizadores, ao tomarem esse tipo de decisão, têm tanto ou mais prejuízo que os corredores, não só financeiro, mas também de imagem da prova cancelada.

Por isso é importante ler o regulamento da prova e se atentar à cláusula sobre cancelamento/adiamento que lá consta. Umas possuem plano A e B. Outras, não. Algumas organizadoras devolvem em parte o dinheiro da inscrição, outras nem isso.

Avaliar época da prova, características geográficas e a possibilidade de fazer outra competição em local próximo são ações defensivas que devem contar no planejamento dos corredores.

Infelizmente a natureza é quem manda e contra ela não dá para lutar. 

Corrida tem todo ano. A vida é uma só.

Harry Thomas Jr

Harry Thomas Jr

Jornalista especializado em corridas de rua desde 1999, Harry competiu pela primeira vez em 1994 e desde então já completou 31 maratonas – sendo três sub 3 horas: São Paulo (2h59min30), Nova York (2h58min20) e Blumenau (2h58min10). Também concluiu seis Ultratrails: 60K Ultratrail Putaendo, 67K Ultratrail Torres del Paine, 50K Indomit Costa Esmeralda e os 50K Ultra Fiord por três vezes. Já correu em países como Argentina, Chile, Estados Unidos, Grécia e Japão.

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