Treinando no escuro

Marcel Sera
Adicionada em 17 de setembro de 2019
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Seja antes do sol aparecer ou depois dele se esconder, correr no escuro nos proporciona algumas coisas interessantes que raramente nos damos conta, mas que podem interferir tanto na eficiência mecânica como nas sensações que temos durante o treino.

Para começar, pense em um restaurante chique. Muito chique (daqueles de filmes, rs). Provavelmente ele não tem mesas muito próximas umas das outras. Também não tem muito barulho. O ambiente é climatizado, limpo e o mais importante: ele é mais escuro que a média, seja pela posição dos lustres ou pela decoração que absorve a luminosidade. E isso tudo serve para aguçar o seu paladar, ou seja, te deixar prestando muito mais atenção na comida.

Pois bem, com a corrida é a mesma coisa. Quando retiramos alguns estímulos que nos distraem (barulho, cheiro, claridade), tendemos a prestar mais atenção ao nosso corpo, mobilizando alguns dos nossos principais sentidos para tudo que controla os movimentos do corpo e reage a eles. Desde as batidas do coração até o movimento final da ponta dos dedos dos pés. É isso que acontece quando vamos correr no escuro.

Antes do sol nascer e depois que ele se põe costumam ser horários em que a cidade é mais silenciosa, ou menos barulhenta, o que colabora, além da falta de claridade, para a redução do estímulo a nossos sentidos. Por isso pode ser uma ótima ideia correr no escuro.

A pessoa que presta mais atenção ao seu corpo durante qualquer atividade consegue identificar e sentir melhor seus
movimentos, suas reações a determinados ritmos, suas amplitudes articulares, suas compensações, seus pontos fortes e seus pontos fracos.

Ou seja, tem potencial para mapear uma quantidade de características maior do que aquelas que treinam com constantes distrações.

Mas vale deixar claro aqui que isso não precisa ser feito em todos os treinos. Não! Na verdade o importante é variar os estímulos. Mas, sem dúvida, quando for realizar um treino mais técnico, fazer educativos ou tentar mudar seu padrão de corrida, a minha sugestão é que largue o fone de ouvido, engula ou cuspa o chiclete, esqueça o celular, afaste-se das pessoas e busque um local mais vazio e escuro (desde que seguro!) e curta. Sim, curta a corrida. Se possível experimente alguns passos de olhos fechados.

Parece maluquice, mas é fisiológico. Quanto menos estímulos recebemos de estruturas como ouvidos, nariz, boca e olhos, mais desenvolvemos a captação de estímulos da pele, articulações, músculos, nervos e tendões. E aqui vale citar o termo propriocepção, que nada mais é do que a nossa capacidade de sabermos como o corpo está posicionado no espaço.

Portanto, a próxima vez que for degustar sua corrida, prepare-se, concentre-se, faça um aquecimento (entrada) e depois saboreie-a (prato principal). Dependendo do treino, pode fazer um desaquecimento (sobremesa, rs).

Mas curta cada momento e entenda que a melhor parte é o durante e não o término.

Bom apetite!

Marcel Sera

Marcel Sera

Fisioterapeuta, palestrante e atleta amador! A ideia, aqui, é explicar como usamos e o que acontece com o nosso corpo em cada situação, ação e emoção de nosso dia-a-dia. Correr é uma terapia e minha fonte de inspirações para compartilhar o conhecimento de forma simples e objetiva para todos os interessados. Sugira, critique, questione, treine e corra à vontade!

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