DivulgaçãoFoto: Divulgação

Um aprendizado na Maratona do Sol da Meia-Noite

Anita Moraes
Adicionada em 10 de agosto de 2018
Mais em Corrida de Rua

Eu não sei o seu sonho, mas o meu era conhecer um lugar como a Noruega. Não precisava ser necessariamente lá, este país, mas foi lá que me encantei e tive uma das experiências mais incríveis da vida com a Maratona do Sol da Meia-Noite.

A cidade da prova se chama Tromso e fica no extremo norte do país, já dentro do círculo Polar Ártico. Então já dá para ter uma ideia da friaca que faz neste lugar. A maratona ocorre no verão escandinavo, mas de verão eu só vi que as pessoas sorriam mais que o habitual, já que lá faz seis meses de inverno intenso e escuro.

A Maratona do Sol da Meia-Noite ainda não é uma prova muito cheia. Em 2016 teve 780 inscritos. Em 2017 foi recorde, com 6000 inscritos.

É uma prova bem raiz, com uma expo minúscula e sem grandes itens de compra. O que se torna uma frustração para nós corredores.

A prova ocorre em junho, com a largada da maratona sempre às 20h30 e da meia-maratona às 22h30. A ideia é que os corredores cheguem na linha de chegada até meia-noite para ver um dos mais belos espetáculos da natureza, o sol da meia-noite.

A Maratona do Sol da Meia-Noite

O trajeto da prova é muito justo. A primeira metade é mais desafiadora, com algumas inclinações e pontes. Depois, o trajeto é plano, à beira-mar, com uma vista incrível das montanhas cheias de neve. Sem dúvida uma maratona com uma das paisagens mais belas que já vi.

A marcação da prova é em km, diferente dos EUA que é em milhas, mas regressiva. Você larga no quilômetro 42 e chega na marca zero. Vocês não imaginam como este diferencial na marcação faz um bem danado para nosso psicológico.

Eu fui a esta prova muito preparada para correr – esperava fazer a prova em 3h33min com base nos treinos que realizei – mas fui muito despreparada em relação ao “verão” escandinavo. Não achei que pudesse colocar uma prova a perder por causa do frio, mas isso aconteceu. Uma hipotermia me pegou de jeito no quilômetro 34.

Eu já havia tido hipotermia uma vez na Austrália, portanto reconhecia os sintomas, sabia o que podia acontecer e, principalmente, as consequências da minha decisão em permanecer correndo do jeito que estava.

Tive câimbras, dores no peito, não sentia meus pés e mãos, não conseguia respirar muito bem e sentia muito frio. Fiz de tudo para permanecer na prova: andei, tentei me aquecer, sentei… mas a minha roupa estava muito molhada e fria.

Foi desesperador, mas o resgate da Cruz Vermelha, que fazia suporte na prova, viu o estado em que eu estava. Eles me chamaram, aqueceram e recomendaram que eu não finalizasse a prova correndo.

É nessas horas que temos que usar o raciocínio. Não podemos deixar nossa vaidade e orgulho imperar para não ter que viver com as consequências de uma decisão mal tomada.

Decidi não voltar mais à prova, com um aperto enorme no coração, pois estava muito bem. Mas meu corpo não aguentaria mais e pagaria o pato no futuro.

Nesta fase eu passava por um divórcio na minha vida pessoal e não tem como não aprender as lições que essa maratona me proporcionou.

Nem tudo ocorre como planejamos! Não somos controladores das vontades da vida e da natureza! Em algumas situações, simplesmente precisamos parar, pensar, tomar a decisão certa e então esperar para colher os bons frutos no futuro.

Anita Moraes

Anita Moraes

Mãe da Laura, corredora, engenheira, happiness e health coach e dona do perfil no Instagram @anita_pelomundo. Assim como tudo o que faz na vida, tem uma sede grande por autoconhecimento e busca utilizar de todas as experiências da vida (positivas e negativas) como grandes oportunidades para crescimento. Portanto, a corrida, que é sua paixão, não ficaria fora desse perfil. Correr para ela é pele, é sensação, é arrepio.

Ver mais