A altura ideal de um corredor

Marcel Sera
Adicionada em 17 de fevereiro de 2020
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Vamos começar pela conclusão (para quem me acompanha, já deve estar na ponta da língua): não existe uma altura ideal para um corredor. Mas a ideia aqui é discutir algumas vantagens e desvantagens de pessoas altas e baixas, explicando suas formas de compensar, em termos de anatomia.

Antes de tudo, saiba que existem três padrões bem genéricos de pessoas: longilíneas, brevilíneas e normolíneas.

O primeiro representa aquele perfil mais alongado de corpo, tronco e membros proporcionalmente mais compridos que a média. O segundo seria o contrário, de pessoas com membros e tronco proporcionalmente mais curtos do que a média, e o terceiro, uma média entre os dois anteriores.

Estes padrões não possuem relação com altura, sendo possível que uma pessoa brevilínea seja alta e uma longilínea seja baixa. A diferença é a estrutura corporal. Basta pensarmos em um campeão do levantamento de peso (geralmente brevilíneo) e em um campeão do salto em altura (geralmente longilíneo) que tenham a mesma altura.

Uma pessoa com grandes percentuais de gordura, apesar de aparentar ter membros e tronco proporcionalmente mais curtos, pode ser longilínea também. Assim como alguém bem magro, ainda assim pode ser brevilíneo. A questão principal está na proporção entre o comprimento dos membros e o tronco.

Para exemplificar, pense na maioria dos orientais ou populações descendentes de índios da América do Sul, que possuem as pernas e os braços mais curtos e o tronco mais largo que a média da população, considerando pessoas da mesma altura.

Mesmo que alguns sejam bem magros, mesmo que outros sejam mais altos, a proporção continua a mesma (ou seja, com braços e pernas mais curtos e o tronco mais largo que a média da população da mesma altura).

Na corrida encontramos todos estes tipos, nas mais diversas variações, inclusive na elite mundial. Um bom exemplo está no duelo mais esperado do ano entre os dois maiores maratonistas da história: Eliud Kipchoge e Kenesia Bekele.

A diferença entre o recorde deles em uma maratona oficial é de apenas 2 segundos. Porém, vemos que Kipchoge parece ser bem mais alto e alongado, apesar das principais fontes mostrarem uma diferença entre 2 a 5 cm de altura apenas.

Pelas fotos e vídeos, fica nítida a diferença entre um corpo longilíneo (Kip) e um com tendência a ser mais brevilíneo (Bekele). O que ajuda são os dados sobre o peso entre eles: Bekele é mais pesado. Isto é, se fosse longilíneo como o Kipchoge, muito provavelmente seria mais leve que o mesmo (considerando a atividade e o nível deles).

A grande diferença está na estratégia que cada um faz durante cada passada. Para compensar as pernas mais curtas, o brevilíneo precisa aumentar a fase de voo, ou seja, dar saltos maiores, podendo também aumentar a quantidade de passos que dá durante um mesmo espaço de tempo (cadência).

A quantidade de força que cada um deles faz não necessariamente é diferente. Enquanto o longilíneo gasta mais energia para mover pernas mais compridas, o brevilíneo economiza energia com pernas mais curtas, mas gasta mais para aumentar amplitude e cadência.

Isso acontece bastante quando estamos falando de uma corrida de asfalto, geralmente mais plana. Porém, ao mudarmos o terreno, a coisa fica bem diferente.

Ao colocarmos tipos diferentes de corredores em um terreno mais irregular, mais acidentado, cheio de subidas e descidas, com mais obstáculos e solo mais amortecido, como areia fofa e lama, os longilíneos podem sofrer um pouco mais.

Terrenos assim exigem mais força de explosão, com maiores amplitudes nas articulações, mais torque combinado com resistência. E neste cenário, os brevilíneos levam vantagem. É uma questão de física. Basta pensar em uma bandeira: Quanto mais comprido o cabo, mais difícil de controlar os movimentos dela.

Mas resumindo, não adianta ter vantagens e a pessoa não explorá-las. Sem treino, não existe vantagem. Sem treino não adianta ter conhecimento.

Portanto, faça testes e experiências até conseguir alcançar seus verdadeiros potenciais. Se for com ajuda profissional, melhor ainda.

Bons treinos!

Marcel Sera

Marcel Sera

Fisioterapeuta, palestrante e atleta amador! A ideia, aqui, é explicar como usamos e o que acontece com o nosso corpo em cada situação, ação e emoção de nosso dia-a-dia. Correr é uma terapia e minha fonte de inspirações para compartilhar o conhecimento de forma simples e objetiva para todos os interessados. Sugira, critique, questione, treine e corra à vontade!

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