Nesta época do ano o corredor deve tomar um cuidado ainda maior ao se exercitar ao ar livre, pois o calor promove uma grande agressão ao nosso organismo. Esta temperatura escaldante a que estamos sujeitos em nosso verão pode danificar um número espantoso de células se o nosso corpo não conseguir dissipar as altas temperaturas por meio do suor.

O calor, aliás, deveria ser levado mais a sério pelos nossos treinadores, que têm de abolir completamente todo e qualquer treino em horários inadequados do dia. Aqui fica meu conselho, caro leitor. Nunca faça seus treinamentos das 11h às 16h e evite a qualquer preço fazê-los com o sol direto sobre seu corpo. Esse tipo de trabalho somente deve ser desenvolvido pelos corredores profissionais, pois eles têm de “obrigar” o seu organismo a se acostumar com esse exercício de dissipação do calor pelo suor constante, que esfria o sangue que é trazido do interior das grandes cavidades do corpo até a sua pele.

Isso que falo agora já repito há muitos anos, mas ainda percebo a dificuldade de as pessoas compreenderem. Que fique claro. As altas temperaturas fazem com que o organismo tenha de sequestrar grande parte do sangue que está abastecendo os nossos músculos para providenciar o resfriamento das grandes cavidades e impedir o aumento da temperatura interna — o que provocaria a nossa morte. Com isso, o coração acaba tendo de se esforçar demais para dar conta desse mecanismo de sobrevivência.

Respeite este maravilhoso mecanismo de nosso corpo e corra mais devagar quando o termômetro estiver lá no alto. Correr forte no verão é estupidez, pois isso apenas destroça nosso organismo e o leva a uma zona de alto risco. Se a função do exercício é apenas levar o seu coração a sair de sua zona de conforto, por que então forçá-lo a uma faixa exaustiva? Uma pequena corrida ou mesmo uma caminhada em muitos casos já é o bastante para aumentar a frequência cardíaca, que é objetivo do trabalho cardiovascular.

O trabalho saudável de corridas ou caminhadas, conforme o momento cardiovascular de cada um, deve ser sempre desenvolvido da forma mais agradável possível e em equilíbrio de oxigênio, como uma espécie de meditação ativa. Ele deve ser realizado também de maneira natural, por isso prefira correr em parques, praças e locais com a presença de árvores e água. Com isso, você obterá uma interação de seu corpo físico com seus outros corpos: emocional, mental e espiritual.

(Texto retirado da coluna “Chegada”, da edição 129, de janeiro de 2014, da Revista O2)