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Vai correr a Maratona de Berlim? Saiba tudo sobre a prova

Adicionada em 23 de agosto de 2018

É unanimidade entre treinadores e corredores que, entre as majors, a Maratona de Berlim é o lugar perfeito para a
quebra do recorde pessoal na distância. Percurso plano, avenidas largas, organização impecável e atmosfera propícia para a prática do esporte. Não à toa, dez recordes mundiais já foram quebrados na capital alemã.

“Sinto uma movimentação entre os corredores para encontrar uma prova tão rápida como a de Berlim, mas, por
enquanto, ela é a mais rápida do calendário mundial”, conta Marcos Paulo Reis, fundador da MPR Assessoria Esportiva.

Levando em torno de 85 pessoas por ano para encarar os 42 km na Alemanha, a assessoria de Marcos Paulo foca exclusivamente a preparação do atleta antes da corrida e no período pós-prova.

“Um conselho que passo para os meus atletas é não exagerar nos treinos de subida, porque não tem necessidade de quebrar o ritmo para correr uma prova plana, como é na capital alemã”, explica. “Na viagem, procuro dar uma palestra antes da prova, conter a ansiedade da galera e estar junto com o atleta até o fim do processo”, completa.

Adriano Bastos, ex-atleta profissional e dono de uma assessoria que leva o seu nome, sugere que, para quebrar um recorde pessoal, o corredor deve focar principalmente os treinos de velocidade e intensidade. “É importante o atleta treinar forte, para o corpo acostumar com os impactos da corrida e atingir uma velocidade constante durante a prova”, recomenda.

O famoso dia do longão, importante para dar melhor percepção da respiração e do próprio pace, também é recomendado por Adriano, com o mesmo cuidado sugerido por Marcos Paulo na quantidade de subidas e descidas durante o trajeto.

Para equilibrar velocidade e resistência, os treinos de tiro são uma excelente opção. “Duas sessões de treino de tiro durante a semana, com repetições intensas, são suficientes para aprimorar esses dois fundamentos”, completa Adriano.

 

Ronaldo da Costa na Maratona de Berlim

Nenhum brasileiro brilhou na Maratona de Berlim como Ronaldo da Costa. No dia 20 de setembro de 1998, o mineiro nascido em Descoberto, bateu um recorde mundial que durava dez anos e viu sua vida mudar completamente ao registrar a marca de 2h06min05s em solo alemão.

“É até difícil explicar o que foi aquele dia. Eu não esperava bater o recorde mundial em Berlim. Queria bater só o recorde sul-americano. Eu falo que 1998 é o ano em que eu nasci de novo”, afirmou à O2 por telefone.

Dez recordes mundiais já foram batidos na Maratona de Berlim — o último deles, pelo queniano Dennis Kimetto em 2014 (2h02min57s). Embora outras marcas tenham surgido nas últimas duas décadas, Ronaldo da Costa é tratado com carinho em Berlim até hoje.

Em 2013, ele voltou à cidade a convite dos organizadores. Neste ano, comemorando os 20 anos de sua vitória, será novamente recepcionado pela promotora do evento.

“Estou com 48 anos e, às vezes, olho para trás e penso: ‘Poxa, olha a importância daquilo que eu fiz’. Quando você
para de correr, passa um filme na cabeça. Aquilo foi maravilhoso”, disse.

Após o triunfo de Ronaldo, teve início o amplo domínio de maratonistas quenianos e etíopes em Berlim. De 1999 em diante, só competidores das duas nacionalidades venceram a prova. Será 2018 o ano em que essa liderança será quebrada? Segundo o vencedor de 1998, não. “Parece que o domínio dos quenianos e etíopes veio para ficar.”

Inscrições e expo

Correr a Maratona de Berlim não é uma missão simples. Para o sonho ser realizado com sucesso, é necessário planejamento, pesquisa e até mesmo um pouco de sorte.

Normalmente, o sorteio é aberto um mês após o dia da prova. Se você for rápido o suficiente, consegue um lugar garantido na cota dos “Fast Runners”, lugar reservado para as pessoas que conseguiram uma marca abaixo de 2h45min para homens (2h55 se tiver mais de 45 anos) e 3h para mulheres (3h20 se tiver mais de 45 anos). Outra forma de ter lugar cativo é sendo um “veterano”.

Para isso, é preciso fazer a prova dez vezes. A partir da 11ª, se ingressa no grupo Jubilee Club, nome dado para quem consegue esse feito.

Caso seja sorteado, o corredor terá de pagar pela inscrição 108 euros, valor que, até o fechamento desta reportagem, correspondia a R$ 490. “Uma diferença entre Berlim e as maratonas americanas e brasileiras é que, na capital alemã, você também paga pelo chip, camiseta da prova e a camiseta de finisher”, conta o analista de marketing esportivo Ricardo Amorim, de 26 anos, que esteve em Berlim em 2016.

Maratona de Berlim parte 1: a corrida

Ricardo Amorim

Vale ressaltar que, ao contrário do chip, as outras duas camisetas são opcionais e devem ser requeridas no momento do sorteio. “Uma dica é não deixar essas escolhas para o dia da expo, porque as peças acabam em questão de segundos”, explica Amorim.

“O chip é obrigatório alugar. Custava 6 euros (cerca de R$ 28) e tem que ser devolvido ao final da prova. Se não for devolvido dentro de 24 horas, você paga uma multa, que é debitada do cartão em que foi feita a inscrição”, completa.

Em 2018, os números de peito devem ser retirados na Expo Berlin Vital, de 13 a 15 de setembro. O local está a poucos metros da estação Platz der Luftbrücke, em uma das linhas do U-Bahn, o metrô berlinense. Recheada de novidades do mundo da corrida e de produtos exclusivos da prova, a feira pode incomodar o participante pelo excesso de visitantes. “A expo estava muito cheia. Foi um dos únicos pontos não tão positivos da minha experiência em Berlim”, recorda Bruno Baldo.

Na Expo da Berlin Vital, algumas marcas mundialmente conhecidas costumam baratear suas peças. “É sempre um bom negócio comprar gel de carboidrato e frequencímetro. Estão sempre com desconto”, recomenda Ricardo Amorim.

Dicas e curiosidades

• 916 brasileiros participaram da Maratona de Berlim em 2017, de acordo com informações fornecidas pela organização. Foram 606 homens e 309 mulheres; 829 atletas concluíram a maratona.

• Uma boa maneira de conhecer mais sobre a história de Berlim é buscar um free walking tour, giro que percorre as principais atrações da cidade. Como sugere o nome, o tour é gratuito, mas é de bom grado dar uma gorjeta aos simpáticos guias. A Sandemans, empresa que oferece esse tipo de serviço nas principais cidades europeias, tem passeios que saem do Portão de Brandemburgo todos os dias, em diversos horários.

• Berlim é perfeita para quem é bom de garfo. Você não terá problemas para encontrar os pratos que deseja, sejam opções vegetarianas ou da cozinha italiana, ideal para turbinar o corpo de energia na véspera da maratona. Quem quiser se aventurar na carne de porco e nos tradicionais salsichões não irá se arrepender.

Maratona de Berlim parte 1: a corrida

Refeição tradicional alemã

Jesse Owens, um dos maiores nomes da história do atletismo, silenciou Hitler no Estádio Olímpico de Berlim, durante as Olimpíadas de 1936. O negro americano mostrou ao ditador que a supremacia física e intelectual ariana não passava de um devaneio nazista e abocanhou quatro medalhas de ouro. O episódio é lembrado pelos guias locais durante a visita ao Olympiastadion, que também recebeu a final da Copa do Mundo de 2006 e serve como casa para o Hertha Berlin. O tour custa 11 euros e dura entre 60 e 80 minutos. Para quem é apaixonado pelo mundo do esporte, vale a pena.

Maratona de Berlim parte 1: a corrida

Jesse Owens

• A Bambini Race, destinada a crianças até 10 anos, é uma iniciativa da organização para a garotada curtir os benefícios da atividade física. As distâncias variam entre 400 e 1.000 metros. É possível se inscrever até 30 minutos antes da prova seguinte. O valor desta minimaratona é de 11 euros e o registro pode ser feito on-line.

• O espanhol Abel Antón foi o último homem branco a vencer em Berlim. Em 1996, Antón cruzou a linha de chegada em 2h09min15s. Já no feminino, uma hegemonia rara em maratonas. Entre 2000 e 2005, apenas corredoras japonesas venceram a prova, com destaque para Mizuki Noguchi, que em 2005 cravou o recorde feminino da maratona (2h19min12s).

Maratona de Berlim parte 1: a corrida

Abel Antón

*Texto de Pedro Lopes e Pedro Cunácia