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Jornalista transforma busca de índice para Boston em livro

Adicionada em 28 de agosto de 2018

“Para os corredores anônimos, a vitória está na linha de largada. Vencedor é quem consegue chegar até ali. Para correr em Boston não basta querer, é preciso conquistar esse direito.”

O jornalista e maratonista Sergio Xavier Filho (na foto acima, à esquerda), hoje comentarista dos canais Sportv, perseguiu o sonho de estar entre os participantes da Maratona de Boston durante oito anos, até obter o índice para disputar a edição de 2017. A busca pelo índice foi transformada no livro “Boston: a mais longa das maratonas”.

Em pouco mais de 200 páginas, Sergio intercala as dores e os sabores de um amador em busca de uma vaga no Olimpo da corrida com episódios marcantes de grandes personagens da Maratona de Boston. Ele viaja pelos 121 anos da Maratona de Boston resgatando a valentia de Kathrine Switzer, competidora que mudou o curso da corrida e da luta pela igualdade de gêneros, a determinação de John Kelley, que correu 61 vezes a maratona e virou estátua no km 32, o pioneirismo de Roberta Gibb, primeira mulher a completar a prova, e até a tristeza associada ao atentado na edição de 2013.

“[O livro] É também a história de todos que um dia correram essa maratona e daqueles que ainda sonham em concluí-la. Um relato pessoal, mas também jornalístico, histórico e, acima de tudo, inspirador sobre a maratona que também é sinônimo de transformação, sobrevivência e coragem”, escreve o autor.

Os dramas e episódios de satisfação pessoal lembrados por ele são capazes de despertar empatia no leitor, que enxerga nas páginas as alegrias e inseguranças características de qualquer praticante da modalidade. Com uma escrita leve e riqueza de detalhes das provas e treinos, Sergio consegue transmitir um sentimento de cumplicidade ao amador que folheia o livro, mas sem abandonar a precisão jornalística quando reconta situações mundialmente conhecidas.

“Eu não estou contando apenas a minha história ao tentar ir para Boston. As histórias dos corredores são parecidas. A briga contra a lesão, a tentativa de melhorar os tempos… Para quem corre, é impossível ler um pedaço da minha história e não se identificar. E eu vou botando no meio dessa narrativa grandes histórias dos 121 anos de Boston”, afirma.

Menos conhecida do que os episódios de Kathrine Switzer e John Kelley, por exemplo, a história da farsante cubana Rosie Ruiz merece destaque. Funcionária de uma empresa de commodities, Ruiz treinava somente aos fins de semana e não seguia planilha. Mesmo assim, conseguiu, em 1979, a façanha de terminar a Maratona de Nova York como a décima primeira mulher mais rápida da prova. O que ninguém sabia era que, diferentemente dos outros corredores, ela utilizou o metrô nova-iorquino para cortar caminho. Sem ser flagrada pela organização, gabou-se do resultado para colegas de trabalho e encheu o chefe de orgulho.

 

 

Em 1980, Ruiz, então com 27 anos, usou estratégia similar em Boston. Ela ignorou a maior parte do percurso e ficou plantada no km 41, à espera da hora certa para cruzar a linha de chegada. Sem suar a camiseta, “completou” a prova em 2h31min56s, subindo ao pódio satisfeita por ter o recorde da prova. A mentira foi desfeita dias depois, assim que a imprensa local desconfiou do comportamento da cubana e da falta de detalhes sobre seu treinamento. Começaram, então, a pipocar depoimentos de pessoas que a viram esperando na calçada no km 41. Desclassificada nas Maratonas de Nova York e Boston, ela foi presa dois anos depois, acusada de desviar 60 mil dólares da firma em que trabalhava.

 

“Boston: a mais longa das maratonas”
Arquipélago Editorial
Avaliação: bom

208 páginas
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