Ricardo SoaresFoto: Ricardo Soares

Corrida para ocupados: como incluir a prática na sua rotina

Adicionada em 06 de novembro de 2018

É fato que praticar um esporte faz parte do equilíbrio de uma vida saudável. Falta de tempo para encaixar uma atividade física como a corrida de rua em uma rotina cheia de compromissos? Trabalho, família, vida social, viagens, projetos e outros planos se transformam na melhor desculpa para não começar, ou estar sempre naquele ciclo vicioso de começar, desistir e recomeçar. O “corrida para ocupados” é justamente para quem quer sair dessa situação.

Mas você acharia mais tempo se contássemos que correr pode fazer mágica nessa agenda lotada e ainda melhorar todos os outros aspectos da vida? Se exemplos dizem mais do que palavras, contamos histórias inspiradoras para mostrar que quando a gente quer de verdade, dá-se um jeito, não importa o estilo de vida.

Alguns acordam às 4h da manhã, outros treinam na hora do almoço ou nas altas horas da noite. Além da disciplina em comum, é necessário planejamento para não desperdiçar um minuto sequer. Por que fazem isso? Para ter um corpo bonito, ganhar likes e seguidores nas redes sociais, por pódios ou medalhas? Não. A corrida faz delas pessoas melhores.

 

 

Corrida para ocupados: os exemplos da vida real

Nome: Flávia Regina de Oliveira
Profissão: Pediatra
41 anos, casada, mãe de dois filhos

Desafio: “Organizar tudo para ter um tempo pra mim sem prejudicar outras funções. Dar conta de ser mãe, esposa, pediatra, responder aos pacientes o tempo todo. Também sou filha, amiga, um pouco dona de casa e atleta amadora no meio do caminho. Não acho que dá pra fazer tudo 100%, mas dou o meu melhor, desde estar com meus filhos até fazer meus treinos”.

Não foi do dia para a noite que Flávia conseguiu administrar seu tempo para tudo entrar nos eixos. “Fui arrumando minha rotina para conseguir treinar seis vezes na semana. Os horários são encaixados dentro do que tenho que fazer. E sou bem metódica. Quando coloco um horário para o meu treino, é algo sagrado. Encaro como uma reunião, um compromisso comigo mesma”, conta.

Desde criança, tem uma vida ativa envolvendo muitos esportes. Balé, ginástica olímpica e natação, por exemplo, foram praticados até a adolescência. A natação durou até a faculdade de medicina. “Minha personalidade é muito pautada em cima do esporte desde cedo. Sempre fui movida a desafios. O esporte nunca foi estético, foi sempre para me sentir bem, que eu podia ir além. Existe um empoderamento na questão do ser humano mesmo: você traz à tona o que tem de melhor”, revela.

Flávia não conseguiu manter o esporte durante a residência, período mais sedentário de sua vida. Mas durante a gestação do segundo filho, em 2013, descobriu a corrida. “Meu treinador foi muito cuidadoso e consegui correr até o final da gravidez. A primeira prova foi em março de 2014, no Circuito das Estações. Corri 5 km para 38 minutos e achei que fosse morrer. Falei que nunca mais ia correr de novo”, relembra.

Mal sabia que no ano seguinte faria sua primeira São Silvestre; em seguida, três meias-maratonas e agora, quatro anos depois, prestes a fazer sua primeira maratona. “Hábito não nasce do nada. É uma construção. De repente vai achar aquele tempo que não tinha e perceber que tempo é questão de prioridade com você mesmo.”

Para ela, o esforço é a maneira de vencer as desculpas. “Se ficar deitada ou no sofá, aquilo que você quer não irá emanar dentro de você. O que vai fazer você explorar todo esse potencial é o esforço que faz para alcançar. O mindset é de crescimento: acreditar no potencial e no esforço para se chegar a ele. O esporte me trouxe isso”, finaliza.

Nome: Aparecida Ikegiri (Cidinha)
Profissão: Ginecologista e obstetra
32 anos, vai se casar em 2019

Desafio: “Logo que acordo só tenho tempo para tomar um café da manhã e sair para trabalhar. Trabalho quase todos os dias em lugares diferentes. Uma vez por semana eu tiro uma folga para me cuidar. Acordo às 5h30 e consigo fazer uma hora de treino pela manhã. Normalmente meus treinos são na esteira, depois de 12 horas de plantão. É bem comum pra mim fechar a academia com os funcionários”. Foi em meio ao caos do trabalho que Cidinha começou a refletir sobre todo o desgaste e a vida estressante que levava.

A paixão pela corrida gerou uma grande transformação. “O esporte e os hábitos saudáveis mudaram minha vida e me despertaram para o início de uma nova fase profissional. Hoje sou pós-graduanda em medicina esportiva e minha missão com o meu trabalho é poder transmitir para as minhas pacientes quanto uma vida equilibrada pode prevenir doenças, trazer saúde, bem-estar e longevidade”, conta.

A veia médica está presente desde criança, quando a mãe lhe deu um estetoscópio com apenas 3 anos. Mas a medicina na faculdade, na residência, foi uma época bem pesada. “Quase desisti. Na residência também foi uma experiência ruim. Essa coisa de hierarquia dentro da medicina é muito complicada. Não dormia nos meus plantões. Minha vida virou um inferno”, relata. A rotina de 100 horas semanais de trabalho a deixou no piloto automático.

“Acho que o ser humano tem um limite. Logo você está se descuidando, tratando mal os outros. É uma roda sem fim. Comecei a ficar estressada, agressiva. Tinha raiva da minha vida.” Foi no terceiro ano de residência que ela começou a praticar um esporte. Na vida pessoal, estava para terminar um noivado. O pai, alicerce da família, estava com câncer. Tudo aconteceu ao mesmo tempo.

“Pensei que precisava me mover para desestressar. Foi uma saída, também entrei na terapia. Isso foi há quatro, cinco anos.” A prática foi se tornando um hábito e tudo foi se desenrolando: terminou o noivado, ajudou o pai com o tratamento e retomou as rédeas da vida, com mais autoestima, produtividade e energia.

Hoje, apesar de trabalhar em três hospitais, consegue se virar para dar conta de tudo. “É tão corrido que ontem, por exemplo, atendi uns 70 pacientes. Nem sei dizer quantos partos eu fiz. Não dou mais plantão todos os dias, graças ao esporte, que foi crucial para me ensinar o que era importante. Na minha área, as pessoas acham que são mais fortes e não precisam dessa simplicidade. Acordar na sua cama e não no sofá do hospital. Comer bem, praticar um esporte, ter um tempo pra você. Trabalhar por 30, 40, 50 horas seguidas não é saudável. A classe médica hoje anda doente. Só consegui mudar quando comecei a praticar exercício físico mesmo”, aconselha.

Na corrida, ela se destacou. Virou influenciadora digital, conheceu o noivo, que também é corredor, e vai se casar em 2019. Além disso, abriu um consultório particular para atender mulheres. “Achava que não iria ter o meu espaço tão cedo. O despertar para essa vida equilibrada veio com a corrida e as redes sociais. Os dois me abriram esse caminho de inspiração para outras pessoas.”

Nome: Paulo César Simões
Profissão: Farmacêutico
39 anos, casado, pai de uma filha de 1 ano e 2 meses

Desafio: “Luto contra o tempo. Minha maior luta foi encontrar um jeito de dividir as tarefas: cuidar da minha filha, lavar roupa, cozinhar, ser parceiro da minha esposa, treinar de verdade e com objetivos e ainda realizar um bom trabalho. Se eu atraso 20 minutos em casa, são 20 minutos a menos de treino. Também sou eu que faço minha comida, a cada 15 dias, e congelo. Gosto de cozinhar e acredito muito na energia que coloco ali. Tento fazer o melhor possível. Se eu fizer certinho, o negócio flui”.

Paulo é daqueles que já fez de tudo um pouco nesta vida. Há 15 anos trabalha como farmacêutico bioquímico, mas já foi professor de jiu-jítsu e animador de festa infantil. Era atleta profissional, estava prestes a ganhar a faixa preta quando a tia falou sobre ter uma profissão além do esporte.

“Deu um clique em mim. Metade dos meus amigos foi pro UFC e outra metade abriu academia de luta. Eu fui estudar. Fiz um curso técnico de laboratório e amei. Quando terminei o curso, consegui vaga para trabalhar na Unifesp, no Graacc”, recorda-se.

Trabalhou por 14 anos no laboratório de criopreservação de células-tronco para transplante de medula enquanto estudava para virar bioquímico. Há um ano, mudou de emprego e hoje é farmacêutico responsável pela manipulação de injetáveis, medicamentos para emagrecimento, diabetes, entre outros em uma clínica de estética e nutrologia em São Paulo (SP).

A rotina precisa ser sistemática para aproveitar o tempo ao máximo. “Acordo às 5h ou 6h para alimentar minha filha e preparar o café da manhã para a minha esposa. Depois disso, me arrumo para começar meu dia. Tem vezes que tenho dois treinos no dia, por isso já levo tudo no carro, uma mochila com roupas, comida e tudo o mais que precisar. Tipo MacGyver”, brinca. As sextas-feiras são sagradas para o descanso, porque sábado e domingo também têm treinos, geralmente longões, além de curtir a família e organizar tudo para a próxima semana.

Tamanha resignação para uma rotina regrada começou dentro de casa, bem cedo. Seu avô era do exército, corria e praticava jiu-jítsu. “Comecei a gostar de esportes por causa dele. Fiz atletismo no Centro Olímpico, basquete e judô. Depois fui para o jiu-jítsu. Quando tinha 14 anos, ficava correndo para lá e para cá, sem parar, um corredor bem pequeno na casa onde morava. Só parava quando vinha aquela sensação pós-corrida de bem-estar e satisfação. Acho que é a endorfina. Sempre, desde cedo, eu estava atrás dela”, conta.

A prova mais longa que já fez foi uma de 24 km, e já perdeu as contas das corridas que fez do Circuito da Corpore, dos Bombeiros, sua preferida. “O esporte faz parte da minha vida, é minha válvula de escape. Quando eu corro, tudo de ruim que passei durante o dia sai de mim”, explica.

“Imagine que nosso corpo é o mesmo que uma tábua de madeira com vários pregos. Se você remover todos eles, cada furinho vai continuar lá. Se a tábua for forte, ela vai aguentar e permanecer firme, mesmo com as marcas. A vida me deu muitos pregos, e a corrida me fez ficar forte para aguentar o tranco”, filosofa.

Nome: Fábio Barreto
Profissão: Taxista
46 anos, casado, pai de 2 filhos

Desafio:“Fico 14 horas por dia sentado, dirigindo por São Paulo.” Fábio é cearense e chegou a São Paulo ainda jovem para trabalhar. Desde 2005 treina caratê, inspirado nos filmes do Bruce Lee. Talvez por isso nunca tenha sofrido um tipo de lesão na corrida, em que coleciona mais de sete maratonas oficiais e várias outras provas de distâncias variadas.

“O treino de caratê é muito pesado. Bruce Lee era minha inspiração. Descobri a endorfina com o caratê”, conta. Com a correria do trabalho, afazeres em casa, filhos e a mulher, ficou um tempo sem praticar esportes e percebeu que precisava se movimentar.

“Fui abaixar e senti uma barriga ali que não tinha antes”, diverte-se. Foi um colega do ponto de táxi, Djalma, corredor de longa data, que falou para Fábio começar a correr, em meados de 2010. A primeira vez que fez uma corrida de rua terminou 5 km em mais de uma hora.

“Aprendi disciplina. Planejamento. E, principalmente, a não ter tempo ruim. Se você quer, vá lá e faça.” Aos sábados, o taxista corre aproximadamente 15 km pela Rodovia Dutra. Ao contrário da maioria dos atletas, ele não se preocupa muito com a alimentação, tampouco com fortalecimento.

“Acredito que a luta fez meu corpo ficar forte para correr. Como de tudo, sem dieta fixa e nunca me machuquei sério”, conta Fábio, que já botou a família para correr em quase todos os parques de São Paulo.

“A gente nem imagina como São Paulo é repleto de parques bonitos para correr. Tinha um circuito de corrida de rua da prefeitura que era gratuito, aí levava meus dois filhos, Rafael (22) e Ricardo (16), e a minha mulher. Faz parte da minha vida e da minha família. Tentei ensinar isso para eles desde cedo.”

Nome: Jaime Vanucci
Profissão: Estudante de educação física e profissional de marketing
28 anos

Desafio: “Acordo às 6h, tomo café, vou para a faculdade,  passo em casa, almoço e vou treinar. Depois, vou direto para o trabalho. De lá, saio novamente para treinar corrida ou ciclismo”. A vida de Jaime mudou bastante há seis meses.

Hoje, atua no ramo do marketing digital, mas durante quatro anos trabalhou com venda de peças de carro. O estudante sempre pedalou e tinha exemplos dentro de casa para uma vida ativa. Mas em 2007 passou por um abalo emocional grande e ficou sem chão.

“Queria ser atleta de bike, mas quando ia estrear no Campeonato Paulista de Speed, meu avô morreu atropelado em um treino de bicicleta na Fernão Dias. Isso me traumatizou muito e não consegui mais seguir com meu objetivo”, conta.

Nunca abandonou o esporte, só mudou de rumo: foi para a academia praticar musculação, buscar um corpo forte e uma razão para se manter ativo. Há quatro anos, decidiu voltar a pedalar. Mas a corrida veio conquistando Jaime “pelas beiradas”. A exemplo do tio, maratonista, ele percebeu que correr era uma terapia.

“Nessa busca de algo a mais, comecei a correr. Era só ter 10, 15 minutos livres e pronto, eu ia. Foi aí que o trabalho na oficina parou de se encaixar. Trabalhava de segunda a sexta, sábado e domingo em provas de carro, e não tinha tempo para treinar”, relembra. Começou a querer participar de provas de bike e corrida. Para ele, correr é a base, física e mental, que o faz encarar o dia a dia com vontade.

Vida de influencer

Jaime se destacou com seu perfil no Instagram. “Sempre tive certa popularidade ali porque fazia muitas fotos com a GoPro. Usei bastante a meu favor. Saí da oficina e comecei a me dedicar aos treinamentos de corrida, divulgando tudo por ali. Foi quando a GymPass me chamou para ser embaixador. Vi que tinha um espaço e que talvez pudesse influenciar as pessoas. Participei de uma seletiva e passei. Aí, vi um novo horizonte.”

Da paixão pelo esporte, nasceu a vontade de fazer outra graduação. Formado em administração e marketing, Jaime entrou na faculdade de educação física. “O esporte te faz querer influenciar os outros para o bem. Falam que a corrida é solitária. Eu não acho! Todo mundo se ajuda e se empurra. Meus melhores resultados de treinos são em provas. Acho que essa motivação de pessoas juntas ali é o que faz isso acontecer.”

Para ele, a melhor história de inspiração é a de seu irmão mais novo. “Essa geração que nasceu jogando videogame, com celular e computador não quer saber de correr. Ele sempre preferia outras coisas a treinar comigo. Mas inscrevi a gente em uma prova. Pesquisei o resultado das anteriores e vi que se ele fizesse 5 km em 25 minutos pegaria pódio na categoria. Desafiei meu irmão e o ajudei a treinar. Na prova, ele correu para 25min50s, ganhou o segundo lugar (na categoria) e foi um case para mim. Os amigos dele agora estão querendo correr também”, comemora.

Nome: Alexandre Pereira de Andrade (ou o “louco da madrugada“, como é conhecido no Rio de Janeiro)
Profissão: Promotor de vendas
41 anos, pai de 3 filhas

Desafio: “Quando comecei a correr, pesava 132 kg. Era hipertenso e tinha problemas cardiovasculares. Não tinha tempo para nada. Trabalhava como motoboy na Prefeitura do Estado do Rio de Janeiro, entrava às 6h e saía às 17h, e antes de ir para casa, buscava minha filha na creche. Chegava em casa sempre tarde e muito cansado”.

A rotina pesada aliada à indisciplina impedia Alexandre de melhorar sua saúde. “Nessa época, treinava de segunda e terça; na quarta, eu parava; na quinta, eu não ia; na sexta e no sábado, eu bebia.” Até que, em uma madrugada, a corrida entrou de vez na vida do carioca.

“Estava com insônia durante uma madrugada, porque, mais cedo, minha esposa havia dito que me abandonaria caso não cuidasse da minha saúde. Que estava cansada de tentar me ajudar em vão. Então, levantei da cama e fui para a rua.” A partir daí, foi um caminho sem volta. Ainda bem.

“Começava o treino por volta das 3h15 damanhã, meu único horário disponível. Corria uns 6 km ou 7 km, voltava para casa, tomava banho e pegava minha moto para trabalhar.” Essa rotina atípica tornou Alexandre famoso no Rio de Janeiro, com o apelido de “Louco da Madrugada”, o qual adotou e usa até hoje em suas redes sociais.

Hoje, possui quase 4 mil seguidores. Em consequência dos treinos, recuperou sua saúde e ganhou outros benefícios: mais autoestima, novas amizades, algumas parcerias com marcas e muito carinho da galera.

“Em um dos meus primeiros treinos, publiquei uma foto, às 3h da manhã, no ‘Viciados em Corrida de Rua’. Teve uma boa repercussão, foram mais de 2 mil curtidas e centenas de comentários no Facebook. Depois dessa postagem, as pessoas foram me abraçando cada vez mais. Essa recepção fez com que eu tivesse a oportunidade de participar e divulgar alguns eventos. O pessoal comentava: ‘Pô, o Louco da Madrugada vai correr! Então, tô dentro!’”, diz.

O corredor é apaixonado pela capital paulista e já viajou para correr as tradicionais São Silvestre e Meia Maratona de São Paulo. Além dessas, já completou inúmeras provas de 5 km e 10 km, dez meias-maratonas e duas maratonas.

Dois anos depois, o esporte permanece na vida do ex-motoboy, que confessa sentir preguiça às vezes. “Mas quando isso acontece, olho para a minha foto com 132 kg, levanto e vou correr na hora. Nos primeiros quilômetros, eu reclamo muito, mas quando chego ao quinto ou sexto, tudo fica mais legal. Lá pros 10 km ou 15 km, depende do tempo disponível, eu termino  sorrindo e com a sensação de dever cumprido.”

Hoje, pesa 90 kg, 42 kg a menos de quando começou a correr, e também credita o emagrecimento a uma alimentação mais saudável. “Não sou completamente regrado, mas minha alimentação é muito melhor do que antes. Eu bebia muito refrigerante e cerveja, consumia muito açúcar, fritura… De vez em quando, ainda como e bebo essas coisas, apenas para matar a vontade.”

Nome: Ludmilla Maschion
Profissão: Administradora e advogada
30 anos

Desafio: “Trabalho o dia inteiro, faço aulas de inglês duas vezes por semana e aulas de piano. Vou para a academia todos os dias e treino corrida de acordo com a planilha. Divido meu tempo entre tudo isso com o trabalho, os treinos,
minha família e meu noivo. Sem a corrida não consigo dar conta de tudo isso”.

Ludmilla descobriu a corrida no início de sua segunda graduação, há quatro anos. “Minha avó morreu por causa
de problemas cardíacos. Logo depois minha mãe começou a ter pressão alta. Foi assustador e comecei a correr para evitar isso”, explica.

“Em umas férias em Miami, há quatro anos, fiquei sabendo que haveria uma corrida, mas nunca tinha feito uma prova antes, nem sabia como funcionava. Fui correr de pipoca. Fiz 10 km em uma hora e pouco. Vi que tinha uns copos de água, peguei, mas juro que não foi na maldade… Não sabia como era!”, conta.

Depois disso, passou a se inscrever em várias provas e nunca mais parou. “Virou um vício. Treinava por conta própria. Há três anos descobri o Desafio do Dunga (uma prova de 78 km dividida em quatro dias em diferentes distâncias: 5 km, 10 km, 21 km e 42 km) e decidi que queria fazer essa prova. Procurei uma assessoria esportiva e falei para o treinador que pretendia participar do desafio em até três anos. Ele disse que era possível.”

Nessa época de preparação, cursava Direito à noite e teve a ideia de correr a Maratona de Buenos Aires como forma de se ambientar para o Desafio do Dunga. “Foi um desgaste muito grande. Fui para Buenos Aires com pubalgia e tendinite no joelho. Do km 25 ao km 42 só chorei, mas aí vi quanto eu gostava daquilo e quanto eu me esforço para conseguir algo quando amo de verdade. Fiz a Maratona de Buenos Aires em 5h40min, um tempo horrível. Sentia muita dor e ainda assim estava feliz pra caramba e pensando na próxima. Naquele momento vi que a corrida realmente era algo mágico”, relembra.

2017: o ano em que tudo aconteceu

Duas coisas preocupavam Ludmilla: o Desafio do Dunga e sua ascensão profissional. “Queria muitos ambos. Comecei a fazer uma pós-graduação, junto com a graduação em Direito. A pós era aos sábados, das 8h às 17h30. Ainda conseguia fazer a unha para depois encontrar com meu noivo. No domingo, fazia longão e depois tempo livre para ficar com ele”, rememora a advogada.

“Acordava às 4h da manhã e treinava até 6h30 todos os dias. Tomava café no carro mesmo. Se não, não dava tempo. Seguia para o trabalho, onde ficava até as 18h. Depois, faculdade, onde ficava até as 23h. Chegava em casa, arrumava a roupa de treino do dia seguinte e tentava dormir o máximo possível. A sorte é que eu moro com meus pais, minha mãe me ajudou muito”, conta.

Terminou a faculdade e a pós-graduação no fim de 2017 e concluiu o Desafio do Dunga no começo de 2018. Em junho deste ano, ainda fez os 42K de Floripa. Depois de tudo que passou, ela tira de letra a rotina atual e planeja fazer o Desafio do Dunga novamente.

“Há quatro anos a corrida me ajuda a dormir. Sempre sofri de insônia, vivia estressada e impaciente. E tudo isso mudou. Correr me deixa mais calma, mesmo nessa correria do caramba.” A disciplina e a organização que vieram com o esporte ajudaram na profissão.

“Além de me deixar mais disciplinada, correr me deixou calma para assuntos do trabalho. E eu ainda inspiro minha equipe.”

*Por Camila Brogliato e Felipe Cezar