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Depressão, long neck e “exemplo”: a vida de Vanderlei Cordeiro após a aposentadoria

Adicionada em 04 de julho de 2017

Uma frase de autoria de Paulo Roberto Falcão, ídolo do Internacional e da seleção brasileira, sintetiza o vazio que a aposentadoria no esporte provoca na vida de um atleta. Segundo ele, o jogador de futebol tem duas mortes. A primeira, no momento em que pendura as chuteiras. Em outras modalidades, não costuma ser diferente. Aposentado das maratonas profissionais desde 2009, Vanderlei Cordeiro de Lima, medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de 2004, reconhece que, mesmo planejando antecipadamente seu afastamento das maratonas, não conseguiu driblar a depressão.  

Convidado pela organização do Mountain Do no Costão do Santinho, evento de corrida de montanha realizado em Florianópolis no último fim de semana, Vanderlei comprovou que, passados oito anos do adeus às pistas, não consegue ficar longe da corrida. Ele rodou 9 km na prova disputada na Ilha da Magia – terminando na quarta colocação em sua categoria – e atendeu pacientemente todos os fãs que pediam fotos e lembravam do episódio com o padre irlandês em Atenas. Entre uma selfie e outra, o corredor de 47 anos conversou com o Ativo.com e detalhou ligação próxima ao esporte que lhe proporcionou fama, realização pessoal e uma vida confortável. 

“Eu fiz um planejamento para encerrar a minha carreira. Depois da aposentadoria, o atleta acaba percebendo que nada substitui a corrida. Nós ficamos dependentes disso. Por mais que eu tenha feito um planejamento e até um trabalho de ‘destreinamento’, perdendo um pouco do volume de treino, tive um período pré-depressivo. Acho que todo atleta passa por isso. Eu senti isso. Você perde a vontade de fazer tudo, perde a vontade de correr. Acho que, quando você sai desse meio, se não fizer um preparação – e olha que eu fiz isso –, há momentos em que a corrida faz muita falta”, disse.

 

 

Superado o abalo emocional pelo fim da carreira, Vanderlei Cordeiro agora mantém a forma para servir de exemplo aos praticantes do esporte. No entanto, a intensidade e as distâncias já não são mais as mesmas. Ele corre de três a cinco vezes por semana. Nos treinos, seu pace gira entre 3min50s, 4mins. Nas competições, ele acelera o passo e vai para 3min20s/km.

“Eu saí da corrida, mas a corrida jamais saiu de mim. Eu tive um período sem treinar sistematicamente, mas a corrida sempre fez parte do meu cotidiano. Quando você deixa de ser atleta, começa a querer fazer coisas que deixou de fazer ao longo da carreira. Quer pescar, compartilhar momentos com os amigos, estar com os amigos. A última coisa que você vai querer fazer é correr. Hoje eu corro por qualidade de vida. E correr, para mim, não é só qualidade de vida. É fazer o que eu sempre fiz, gostei e amei. E eu também tenho que dar o exemplo. É legal o ex-atleta chegar em um ambiente de corrida e manter uma condição mínima para chegar no evento, participar, estar à altura de um ex-atleta. Estou tentando levar isso adiante. Projeto correr, pelo menos, mais uns 50 anos”, brinca.

Afastado das preparações rígidas que envolvem competições de longas distâncias, ele se vê à vontade para defender o consumo de bebidas alcoólicas entre atletas. Segundo Vanderlei Cordeiro, uma cerveja ou uma taça de vinho “ajudam a dormir melhor”.

“Atleta não bebe cerveja. Ele se hidrata com a cerveja [risos]. Eu acho que dá para fazer tudo na vida com planejamento. O que a gente não tem é que abusar. Quando você bebe socialmente, dá para conciliar com o esporte. A cerveja acaba sendo até benéfica para o esportista. Claro que em quantidades moderadas. Eu sempre bebi minha cervejinha, desde a época em que era profissional. Fazia parte também. Na preparação para maratonas, eu abdicava de qualquer tipo de bebida alcoólica, mas, na medida do possível, quando estava estressante, ia lá e tomava uma long neck ou uma taça de vinho para relaxar e dormir melhor. Tem um benefício.”