Nike fica a 26 seg de maratona sub-2h

Adicionada em 06 de maio de 2017

Nenhum dos três atletas indicados pela Nike para tentar correr uma maratona sub-2h pela primeira vez na história teve sucesso na tentativa. Eliud Kipchoge, Zersenay Tadese e Lelisa Desisa fizeram a tentativa oficial de quebra da marca neste sábado, no Autódromo de Monza, e falharam.

Kipchoge foi quem mais se aproximou do feito, completando os 42km em 2h00min25s. Tadese e Desisa não aguentaram o ritmo proposto e ficaram bem para trás. Mesmo sem atingir o objetivo do projeto criado pela gigante esportiva norte-americana, o queniano conseguiu um feito impressionante correndo mais de 2min abaixo do tempo do recorde mundial. Até por isso, o fundista, campeão olímpico, demonstrou bastante felicidade após cruzar a linha de chegada.

Para completar o desafio da maratona sub-2h, os atletas tinham que dar 17 voltas e meia no Autódromo de Monza, com ritmo médio de 2min50s/km. A ideia de realizar o evento no local foi ter o maior controle possível das variáveis que poderiam influenciar o desempenho dos atletas. O evento, cercado de expectativa, foi fechado ao público, mas transmitido gratuitamente pela internet a todo o mundo. A largada foi às 5h45 do horário local.

A marca obtida por Kipchoge na Itália é a mais baixa da história, mas não é considerada recorde mundial da maratona, já que o percurso não é homologado pela Federação Internacional de Atletismo (Iaaf). O feito continua nas mãos do também queniano Dennis Kimetto, que correu a Maratona de Berlim de 2014 em 2h02min57s.

 

 

Neste sábado, Kipchoge, Tadese e Desisa completaram os primeiros 10km em 28min21s, levando a projeção de tempo final para 1h59min35s. Mas o grande desafio não era iniciar o dia em ritmo forte, mas manter o pace durante todo o evento. Antes da metade dos 42km, Lelisa Desisa começou a dar sinais de que não aguentaria a batida e ficou para trás.

Tadese também apresentou problemas para acompanhar o ritmo imposto pelos coelhos da Nike, que à metade da prova eram acompanhados de perto apenas por Kipchoge. O queniano completou a marca de 21km em pouco mais de 59min, e demonstrando estar confortável com o ritmo.

Quando ele chegou a 30km percorridos, 1h25min20s havia se passado. Neste ponto, a projeção de seu tempo final era de 2h00min00s, exatamente a marca que precisava ser quebrada para o milionário projeto da Nike ter seu objetivo atingido. A diferença de rendimento entre os atletas ficou clara quando Kipchoge fez Desisa de retardatário com 1h40min.

Com 7km para o fim, a projeção do tempo final do queniano passou a 2h00min05s, demonstrando uma pequena queda de ritmo. Kipchoge continuou tentando, mas nem mesmo todo o ambiente criado pela Nike para a tentativa permitiu ao queniano obter a marca histórica da maratona sub-2h. Completou os 42,195km em 2h00min25s

Kipchoge, Tadese e Desisa correram atrás de coelhos. Além de puxar o ritmo, os fundistas escolhidos pela Nike para ir à frente de seus atletas tinham a função de tentar diminuir a resistência do ar para os postulantes à marca. O grupo permaneceu sempre em posição de flecha, com as estrelas do projeto na parte de trás.

Para garantir que a formação não seria desfeita durante os 42km, um carro andou à frente dos coelhos, projetando luzes no asfalto de Monza para indicar a eles o posicionamento correto durante a corrida. Como seria impossível contar com um mesmo grupo de coelhos durante todo o evento, a multinacional escalou 30 atletas para se revezarem na dianteira do grupo.

O desafio de correr a maratona abaixo de 2 horas, além de simbólico, era grande. Kipchoge, Tadese e Desisa tinham que correr quase 3 minutos mais rápido do que o recorde mundial de 2h02min57s, estabelecido por Dennis Kimetto na Maratona de Berlim de 2014. A última vez que um atleta reduziu a melhor marca do mundo da maratona em mais de 3 minutos foi em 1952, quando o britânico Jim Peters correu a distância em 2h20min42s. O recorde anterior, de 2h25min39s era do coreano Suh Yun-bok e de 1947.

Nem mesmo outros atletas da elite acreditavam na quebra. Por isso, a Nike apostou suas fichas em alguns diferenciais: o controle da prova, uma equipe especial de coelhos e uma nova tecnologia nos calçados dos atletas. A Adidas, rival da marca no mercado esportivo, também criou um projeto para tentar quebrar a marca de 2 horas.

O controle total das condições foi o ponto mais polêmico da iniciativa da marca norte-americana. Em vez de colocar seus atletas para desafiar a marca em uma prova comum, a Nike criou o próprio evento. Escolheu o Autódromo de Monza para a tentativa por causa da altimetria e o formato circular, e a data de acordo com as condições climáticas da região.

O fato de a tentativa ocorrer no circuito impede que a marca seja homologada pela Iaaf como recorde mundial, já que o percurso não é certificado pela entidade que regula o atletismo mundialmente. Para aumentar as chances de seus atletas completarem os 42km em menos de 2 horas, a Nike também desenvolveu uma bebida energética especial para o evento.

Outro ponto polêmico do projeto da multinacional é a criação do tênis Nike Zoom Vaporfly Elite. O produto, desenvolvido especialmente para o evento, conta com uma tecnologia que levantou debates sobre sua legalidade. Alguns especialistas questionaram se as molas existentes na estrutura do tênis dariam uma vantagem não permitida pelas regras oficiais aos atletas. Uma das novidades do modelo é a entressola chamada ZoomX.

Segundo a marca, o Zoom Vaporfly Elite representa uma média de 4% de melhoria na economia de corrida de seus atletas, se comparado a seu modelo comercial mais rápido o Streak 6.

Outro artifício da Nike para tentar levar seus atletas à maratona sub-2h foi o uso de coelhos – atletas para puxar o ritmo dos líderes. O fato é comum nas principais provas do mundo, mas seu uso foi diferente neste sábado. O evento contou com dezenas de fundistas atuando como coelhos, divididos em times que se revezaram na pista à frente de Kipchoge, Tadese e Desisa, sempre em formação de flecha para tentar diminuir a resistência do ar para os postulantes à marca.