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Pagamentos atrasados atrapalham melhor maratonista paralímpico do mundo

Adicionada em 09 de maio de 2017

As Paralimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro, emocionaram o público, colocaram os paratletas no centro dos holofotes e trouxeram a expectativa de que o esporte paralímpico fosse mais valorizado no Brasil.

O aumento de visibilidade, entretanto, foi passageiro. No dia 23 de abril, o gaúcho Alex Pires tornou-se o melhor maratonista paralímpico do mundo, feito que passou batido por boa parte entre os que cobravam mais atenção com os paratletas no ano passado. Ele subiu ao lugar mais alto do pódio no Mundial de Maratona, competição organizada pelo Comitê Paralímpico Internacional, em prova simultânea à Maratona de Londres.

Alex, de 27 anos, tem um encurtamento no braço esquerdo e, mesmo não sendo amputado, compete na classe T46, voltada para deficientes em membros superiores. Ele precisou de 2h28min20s para se consagrar como o mais veloz entre os maratonistas paralímpicos da atualidade, deixando para trás o marroquino Abelhadi El Harti e o britânico Derek Era, segundo e terceiro colocados, respectivamente.

Dois anos antes, o maratonista paralímpico havia levado a prata na mesma prova, também na capital inglesa. Nenhuma de suas seis medalhas em Mundiais foi suficiente para convencer o grande público de que o esporte paralímpico também é marcado por alta performance.

“Incomoda um pouco [a falta de valorização]. É um pouco complicado. Essa desvalorização não é só do esporte paralímpico, mas, sim, dos esportes individuais. Nós, do esporte paralímpico, não temos visibilidade. É ruim, as pessoas não conhecem da forma como poderiam. Não tem informação correta em relação ao esporte paralímpico, as classes de deficiência, as regras. Nos Jogos do Rio, tinha modalidade do esporte paralímpico que não tem no esporte convencional. Como uma pessoa vai comprar ingresso sendo que não sabe nem o que é?”, questiona.

 

 

O descaso com o esporte paralímpico no Brasil contrasta com o apoio que Alex nota em outros cantos do mundo. Nas provas de rua que disputa na Europa, é chamado pelo nome e incentivado, sinais que o fazem constatar que, no Velho Mundo, existe a cultura de apoiar os esportistas que correm profissionalmente, sejam eles deficientes ou não.

“Nós viajamos bastante e vemos a repercussão do esporte paralímpico [no exterior]. É muito grande. As pessoas nos veem como um Bolt, um Mo Farah. Aqui no Brasil, não é dessa forma. Não temos visibilidade para que nos enxerguem dessa maneira. Eu acho bem complicada essa parte da mídia”, reclama.

A fonte secou
O melhor maratonista paralímpico do mundo também esbarra na burocracia que envolve os pagamentos feitos pelo Ministério do Esporte aos atletas que participam de Jogos Olímpicos e Paralímpicos. O gaúcho faz parte do Bolsa Pódio, iniciativa do governo que repassa mensalmente verbas aos melhores ranqueados em cada modalidade. Em 2017, nenhuma das parcelas de R$ 15 mil foi quitada.

“Tenho enfrentado um pouco de dificuldade em relação a isso. A Bolsa Pódio foi renovada, mas o Ministério do Esporte ainda não acertou nenhum pagamento. Falaram que seria entre abril e maio. Desde que virou o ano, estou sem receber. Nos primeiros meses do ano, o Ministério faz os tramites de assinar, enviar.”

O maratonista paralímpico não desembolsou nada para viajar a Londres – os atletas são financiados pelos comitês nesse tipo de competição –, mas se mantém nos últimos meses com o que acumulou de premiações dos anos anteriores.

O fim do ciclo olímpico e paralímpico diminuiu o investimento das empresas estatais no esporte. Banco do Brasil, Correios, Caixa, Petrobras e Furnas cortaram gastos e deixaram alguns atletas e confederações a ver navios.

Não foi o que aconteceu com o gaúcho, que ainda conta com o patrocínio das Loterias Caixa. Mas, a exemplo do que acontece com o Ministério do Esporte, os pagamentos de 2017 ainda não pingaram em sua conta.

Os próximos passos
Na preparação para o Mundial de Londres, Alex conviveu com dores no tendão de Aquiles. Depois de alguns treinos duros, sequer conseguia colocar o pé no chão. “Em Londres, no dia da prova, parece que teve alguma coisa divina. Não senti desconforto nenhum”, lembra.

A preparação marcada por dores o leva a acreditar que, 100% fisicamente, é possível ir ainda mais longe. Sua melhor marca nos 42 km é 2h27min36s, tempo que ele pretende superar em breve. “Vou ver se consigo me livrar das dores para treinar melhor. Se eu consegui um resultado tão bom treinando com dor, imagine sem.”

Nos Jogos Paralímpicos do ano passado, Alex abandonou no km 25 em razão do calor.